Nem a chuva que fez questão de acompanhar a enorme caravana sobretudo nas estradas do Norte e Centro do País, nem o nevoeiro que roubou alguma da espetacularidade paisagística de uma das mais promissoras edições do Portugal de Lés-a-Lés, beliscaram o entusiasmo dos participantes na maior aventura mototurística da Europa. Que saiu, isso sim, com carisma reforçado após a exigente ligação entre Fafe e Aljezur, com passagem em Castelo de Vide, sublinhado pela felicidade estampada em rostos de notória fadiga.
De Barcelos rumaram mais de 40 participantes, a maior representação de sempre no Lés a Lés.
A Moto Galos ficou responsável por um posto de control na Cova do Lobisomen onde houve muita animação e divertimento.
São, indubitavelmente, as mais adversas condições que mais contribuem para reforçar o carisma da grande aventura organizada pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal. A exigência anunciada por força de um percurso rendilhado, sobretudo na primeira etapa, foi exponenciada pela instabilidade climatérica e, mesmo sem os rigores chuvosos de 2008, ou a intensa canícula de 2009, o mau tempo criou dificuldades acrescidas. Mas, sublinhe-se, sem intimidar os (verdadeiros...) aventureiros que cumpriram ligação de 1017 quilómetros entre a sala de visitas do Minho e as belíssimas praias do Sudoeste, através de um interior pouco conhecido, varando entre a beleza agreste das serranias beirãs e a suavidade das douradas searas alentejanas.
O céu plúmbeo e os frequentes aguaceiros roubaram brilho à interminável paleta de cores oferecida pela travessia de Portugal à moda antiga, cumprida apenas por estradas nacionais, regionais e alguns caminhos de terra batida (e lama...), sempre fugindo de autoestradas, ex-SCUT’s e outros reflexos de modernidade na incontornável questão da mobilidade. Rigor dos elementos que alterou a perceção dos maratonistas face ao caleidoscópio paisagístico oferecido entre a verdura do Minho e as falésias da sudoeste do Algarve, passando pelas serras das Beiras e pelas planuras do Alentejo.
Mas o que o mau tempo roubou em espetacularidade, devolveu, pelo dobro, em carisma...
Chuva que não diluiu o entusiasmo durante as verificações técnicas e documentais que levaram enorme animação ao centro de Fafe, promovendo re-encontro de amigos, em animadas conversas sobre as novas motos, as mais recentes viagens ou os planos de férias sobre rodas. Com a maior comitiva espanhola de sempre, com cerca de uma centena de motociclistas, a caravana partiu para o pequeno (49,3 km) mas intenso prólogo, das paisagens industriais aos carvalhais da nascente do Vizela. Percurso rebuscado pelo concelho fafense, prestes a comemorar os 500 anos da atribuição do foral por D. Manuel I, com ponto alto coincidente (de forma literal!) com a passagem pelo famoso troço de Fafe/Lameirinha. Onde os participantes cumpriram, com acrescidas cautelas, os dois saltos que fazem as delícias dos amantes dos ralis naquele que foi o Lés-a-Lés com menor quilometragem em troços de terra. Belos palacetes, a estátua da Justiça de Fafe, a Igreja Matriz de S. Gens, a curiosa casa do Penedo, aproveitando gigantescas rochas como estrutura arquitetónica, a barragem da Queimadela, a central Hidroelétrica de Santa Rita, uma antiga leprosaria ou os frondosos carvalhais de terras de Cabreira e Barroso completaram enorme lista de motivos de interesse do primeiro dia.